
Por Mauro Mueller
Fílon de Alexandria viveu entre 15 a.C. e 50 d.C., foi um grande filósofo e rabino da tradição Judaica, que estudou as escrituras sagradas da Torah como poucos até hoje. Por muitos é considerado o primeiro Teólogo da história, por ter sido a primeira pessoa que se tem notícia a interpretar e analisar as escrituras Bíblicas dos textos do Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio.
Seu método seguia a prática da exegese judaica, com referências gregas, já que sua língua era o grego. Mesmo sabendo que na história ele tenha passado pelo menos uma vez pelo templo de Jerusalém, viveu na Grécia. Não se tem notícia que ele tenha conhecido a Jesus de Nazaré, tão pouco a sua história.
Mas, o que eu gostaria de refletir com você, leitor, é que sua interpretação da Torah é algo que pode elevar ainda mais o real significado das palavras contidas nas escrituras. O que poderia ser considerado até blasfêmia para uma turma ortodoxa mais conservadora, me parece uma forma de ler e enxergar nas palavras de Moisés, sentidos extraordinários e que me faz ter a grande vontade de que ele esteja certo, tal é a elevação no sentido das palavras que Deus vibrou na mente de Moisés, para que ele transportasse para as escrituras.
Quero trazer aqui apenas poucos exemplos de tudo o que me deixou impressionado nos chamados textos “Alegorias de Gênesis”. Um detalhe bem interessante é saber que, no hebraico bíblico, língua que naqueles tempos não vinham acompanhadas de vogais e apenas vinte e duas consoantes faziam parte da escrita primitiva deste idioma. Os símbolos que formam palavras, também levam a traduções que podem ter sido interpretadas de formas diferentes para cada tradutor que se debruçava nas escrituras. O que pode gerar verdadeiras confusões nos sentidos de palavras como a palavra “morte”, que pode ser também “transformação” ou até “mutação”, o que acaba por ressignificar vários sentidos nos episódios descritos na Torah. Em Gênesis temos a criação do mundo e logo a seguir, a criação do homem e da mulher. O nome Adão traduzido para o português, vem do hebraico “homem” e Eva traduzido significa "mulher” e também “aquela que dá a vida”. Nestes trechos das passagens que contam esta criação, a Bíblia Sagrada conta que Deus colocou Adão para cuidar de um jardim, chamado de Éden e pediu para que ele cuidasse e cultivasse o lugar.
Fílon de Alexandria analisa esta passagem como se Deus estivesse colocando Adão no mundo para cuidar do jardim da vida, cultivando flores e plantas que possam dar bons frutos e assim, manter uma vida saudável e usufruindo de tudo o que a árvore-da-vida pode trazer para quem cultiva coisas boas e positivas. Vamos lembrar também que no judaísmo, temos a chamada “Árvore da Vida”.
Não vou me alongar nesse assunto e sugiro que você pesquise, pois se trata de outro tema muito interessante para conhecimento sobre o judaísmo. Fílon, em sua análise filosófica a respeito desta passagem, em Gênesis 2:17 está escrito: “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, não deves comer. Porque no dia que o fizeres, serás condenado a morrer”. Interessante lembrar que nem Adão e nem Eva morrem com esse castigo, fazendo a teoria de Fílon ter um sentido a ser considerado. Morrer, além de ter a tradução com um tom de duplo sentido, também pode ter sido traduzido com outro significado. Imaginando que Fílon traga a morte como a morte do sentido figurado, o que morreu não foi Adão e também Eva, mas o que morreu foi uma credencial, uma morte da alma, que tornou Adão e Eva suscetíveis ao jardim, nos benefícios e perigos que o mundo oferece.
O jardim sendo o mundo e a morte da confiança, levam o filósofo a interpretar esta passagem como uma transformação, mudança que o comportamento dos dois seres humanos iriam passar a enfrentar. Aliás, não somente Eva não morre, como na fecundação que depende do homem à mulher para engravidá-la, eles começaram a gerar filhos e multiplicar seres humanos no mundo. E nasceram todas as gerações. Indico esta leitura, que traz Gênesis com um teor poético não literal, que muda as escrituras para um grau de ficção, mas com reais significados, leva ensinamentos interessantes de uma leitura romantizada, alegórica e que, na minha singela opinião, muda com perfeição os ensinamentos Bíblicos a um nível maior e mais verdadeiros.
Mas, como estou sugerindo a leitura, tire as suas próprias conclusões.