Por Mauro Mueller / Quantum Dox

Nós, reles mortais, somos o povo, os leigos, os fiéis, o público, os plebeus — pequenos diante de uma autoridade. Não é uma opinião; são apenas os títulos dados a quem não foi "eleito", "escolhido", "convocado" ou "autorizado" a falar.

E se, por acaso, um leigo tiver alguma teoria diferente, dificilmente será autorizado a subir nesses locais para divergir.

Historicamente, foi assim que muitas religiões se estruturaram.

Para citar apenas um exemplo, muitos padres queriam que os fiéis pudessem ler a Bíblia, e Roma não gostou. Fizeram sugestões e solicitações; quando lhes foi negado, desafiaram a autoridade. Ao tentarem copiar ou traduzir a Bíblia do latim e do grego para dar acesso aos fiéis, foram perseguidos, torturados e queimados em praça pública, servindo como exemplos negativos para reprimir quem ousasse tal ato. O Protestantismo surgiu assim. A Igreja Luterana nasceu desses movimentos, culminando na histórica tradução da Bíblia para o alemão, por Martinho Lutero.

Ao longo dos anos, as doutrinas criaram expressões. O "Deus não gosta" é atribuído a tudo o que a pessoa que o pronuncia julga como certo ou errado, mas isso não significa uma regra divina estabelecida.

Gosto da definição de Voltaire: "Acredito no Deus que criou o homem, e não no Deus que os homens criaram". Voltaire foi "Deísta", isto é: acreditava na existência de Deus, mas questionava fortemente os dogmas e as doutrinas das religiões de seu tempo. Estou falando dos anos 1715, 1720, quando este filósofo, dramaturgo e escritor, em plena juventude inquieta, estudava e descobria seu universo. Ele protestava contra o fanatismo religioso e o absolutismo monárquico, numa era complexa que envolvia o reinado de Luiz XV e o surgimento da Maçonaria na França, com a Igreja Católica como instituição dominante, imediatamente abaixo da realeza.

Frases soltas ecoam em nossa mente até hoje como leis universais. Contudo, quando analisadas com mais cuidado, percebemos que elas podem ter impedido nosso crescimento, desenvolvimento e liberdade de escolha. São frases repetidas por nossos pais (que aprenderam com seus pais), as quais frearam nosso desejo de iluminar áreas interessantes. Por causa desses ditos populares, que supostamente nos protegiam, criaram-se barreiras invisíveis que impedem muitos de mergulhar nos livros e aprofundar o conhecimento.

Expressões aparentemente inofensivas como "se Deus quiser" podem livrar da culpa; "Deus me livre" pode isentar o indivíduo de se autoavaliar; "Deus castiga" pode travar a vontade de prosperar. O ditado "santo de casa não faz milagres" pode desacreditar a família; "Deus dá asas a quem não sabe voar" libera a crítica e a inveja.

E a frase "somos tão pequenos diante do poder de Deus", quando dita por uma autoridade no altar, passa uma impressão devastadora: se ele está dizendo isso, o que deve pensar quem está lá embaixo, obrigado a obedecer sem direito de fala? A conclusão é a de que se é inferior demais.

Não estou atacando seu padre ou pastor preferido, nem tentando desconverter ninguém. Apenas proponho uma reflexão: Será que, quando somos inferiorizados por líderes, nós realmente acreditamos? Será que acreditar em frases feitas e regras sem sentido — que acatamos subliminarmente apenas porque nossos pais acatavam — não se torna uma trava em nossas vidas? Será que não questionamos por preguiça, ou porque o "não duvidar" já está gravado em nosso subconsciente desde a infância? Será que a tal "Matrix" é justamente esse projeto de construção de costumes, que nos torna iguais a qualquer ser humano da nossa idade do outro lado do mundo?

Gostaria apenas que você pensasse sobre o quanto você poderia saber se sua mente fosse liberada das crenças que limitam sua busca por conhecimento.

Não quer dizer que tudo esteja errado. Porém, há dez anos, eu tinha como leis conceitos que hoje não fazem mais sentido. O que me propus a estudar não me tornou melhor que ninguém, mas me despertou para uma busca sem limites. As dúvidas para as quais busquei respostas apenas abriram minha mente para formular mais perguntas.

São questões que não aprendi a formular na sala de aula, nem com meus pais (que foram maravilhosos para mim), nem em uma igreja. Escrevendo isto, reitero que não critico os importantes projetos sociais realizados pelas religiões. Mas são dúvidas que me levaram a formular novas perguntas a cada livro, como uma bola de neve que só aumenta de tamanho. É como tentar apagar fogo com gasolina: a busca pelo conhecimento se expande na medida das dúvidas.

Se deixamos a curiosidade de lado, se permitimos que alguém defina o mundo por nós, se nos contentamos com o que nos entregam "mastigado", perdemos o desejo de elaborar novas perguntas e terminamos repetindo: "Seja o que Deus quiser, foi Deus que quis assim".

O Deus de Voltaire pode estar nos proporcionando tudo o que desejamos, desde que estejamos dispostos a utilizar plenamente o tal livre-arbítrio, que, de acordo com a própria lei divina, é um direito concedido por Deus.

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