
Por Andre Wormsbecker
A vida segue seu caminho, sem que eu precise me perguntar para onde ir. Quem realmente se preocupa em saber qual lado é supostamente o correto é o tal do ego. Mas correto para quem? E de que adianta a vida “saber” de algo, se o ego prevalece em decisões importantíssimas que prometem um êxtase paradisíaco?
Somos elementos românticos que sintetizam emoções e reverberações da terceira dimensão, as quais nos pressionam a escolher entre o bem e o mal. Mas, bem para quem? Mal para quem? De que nos valemos para decidir em que mundo faremos prevalecer nossa medíocre opinião? E opinião para quê?
Aquele silêncio que precede o trovão (ou o esporro, como disse O Rappa) está demasiado completo — um copo cheio de informações que apenas estão ali, quietinhas, inertes — quem sabe, aguardando por uma rasa opinião.
Algo para esperar. Algo para acrescentar? Algo para criticar. Algo para não dizer absolutamente nada. Algo para ser nada.
Quantos movimentos caóticos proporcionam equações enormes e inacabadas — narrativas infinitas de nada. Ou seja, de nada servem. De nada acrescentam. De nada valem.
Por vezes, eu também escolho o nada. Por vezes, eu também me observo cheio de angústias de nada. Por vezes, não sei se o nada pode revelar um todo maior — em um infinito de nada — , aquele infinito sempre colossal e repleto de nada.
Somos um conjunto de perguntas que, talvez, por algum motivo, não levem a nada. E, talvez, esse realmente seja o objetivo. Mas a que nada esse nada pertence? Será que precisamos de tudo para entender que nunca entenderemos nada? E se for assim mesmo? E se realmente nunca precisarmos entender nada, já que somos tudo e tudo já está dentro de nós? Parece que, se nos distanciarmos de querer tudo e vivermos vazios de nada, tudo se preenche. Aquela vida cheia de presentinhos da terceira dimensão deixará resquícios de nada… E, afinal, a que valores pertenceu esse nada da terceira dimensão?
O caos do nada faz sentido quando seu antônimo preenche seu oposto. Forças complementares que fazem de tudo para ser nada, e de nada adianta ser tudo se o nada não preencher seu oposto.
Portanto, caminhos, vidas, perguntas, preocupações, perspectivas, egos, bons e maus se unem em um nada colossal que preenche o vazio de tudo. E para que serve tudo isso? Se eu responder, não terei nada para me completar de tudo que seja necessário para que eu entenda que o nada é uma força energética de oposição ao tudo. E tudo apenas é! Nada e tudo são como as pontas de ímãs que se atraem ou se repelem, conforme suas conveniências. Ser bom ou mau são apenas conveniências, mas conveniências de quê? De tudo de bom ou nada de mau?
Emaranhamo-nos em um conjunto de palavras filosóficas que tentam disfarçar as pronúncias mirabolantes e fantasiosas de um ego pronto para tomar todas as decisões mais importantes de uma vida. Acabamos por nos tornar espectadores de um filme no qual a vida é ludibriada pela linha do tempo que vai e vem — provocando-nos uma sensação ilusória de linearidade e compromisso. Uma falsa liberdade de comando que pode ser bravamente calada com uma simples passada de olhos pelas notícias — em um mundo repleto de expectativas plastificadas, sem sabor, sem cor e, literalmente, sem sal.
A atualidade nos condicionou a obedecer a uma tela. Pobres dos neurônios que já não têm utilidade — não são mais estimulados a fazer um cálculo elaborado; agora, parecem fazer apenas conexões rasas e novamente plastificadas. Acabou o trovão. Acabou a poesia da brisa do mar. Trancaram tudo (em nome da liberdade de expressão). O relógio está mais rápido, o frio está mais intenso, o calor está escaldante e o tempo, mais fino, quase sem tempo!
Uma repetição sem fim de frases prontas da amiga do primo do meu amigo, que disse ao vizinho do sogro do prefeito, o qual contou para a irmã do meu cunhado que, por sua vez, repetiu a mesma ideia do professor da minha sobrinha que segurava o telefone da manicure, na casa do seu tio caminhoneiro — o qual falou e repetiu tudo isso porque ouviu da boca do pastor, aquele mesmo que recebeu milagrosamente as mesmas mensagens divinas que estavam pregadas naquele livro: o livro do ego. O ciclo virtuoso do nada.
As palavras parecem cair como produtos apodrecidos da caçamba de um caminhão de lixo. São misturadas, amassadas, cheiram mal, perdem as cores e parecem muito mais gosmentas do que há poucos segundos, quando acabaram de nascer e já foram pichadas pelos sprays do paradigma. Algumas eram até bonitinhas, faziam sentido, porém, agora estão espalhadas em meio a todo aquele lixo, embaladas em plásticos recicláveis que nunca sequer reciclarão o que foi dito.
Pobre ilusão de uma vida que apenas segue o seu caminho. Acabou a poesia!
Desculpe, vou me desligar um pouquinho. Boa noite!