Por Mauro Mueller / Quantum Dox

Até o período do rei Josias (640–609 a.C.), as pessoas realizavam sacrifícios aos deuses, especialmente no Vale de Hinom (ou Geena), localizado nos arredores de Jerusalém. Nesses rituais, eram feitos sacrifícios com animais — e, em alguns casos, até com crianças.

O rei Josias proibiu o sacrifício humano naquele local, como está descrito em II Reis 23:10:

“Profanou o Tofete, que ficava no Vale de Hinom, de modo que ninguém mais pudesse usá-lo para sacrificar no fogo o seu filho ou sua filha a Moloque.”

II Reis 23:10

Tofete é um nome cuja tradução exata é incerta, mas costuma ser interpretado como “lugar de chamas”, devido ao fogo utilizado nos sacrifícios, o que acabou lhe dando essa conotação. Moloque era um deus do politeísmo antigo. Na Bíblia, além dele, também são citados Baal e Aserá, deuses adorados em detrimento do Deus único — onipresente, onipotente e onisciente — de Abraão, nas origens das crenças abraâmicas, o início do Judaísmo.

No Novo Testamento, o lugar passou a ser usado como metáfora: o Vale de Hinom se tornou símbolo do destino dos injustos e impuros, uma representação da destruição e do sofrimento eterno. Assim nasceu o conceito de inferno bíblico, frequentemente associado à Geena — o “lugar onde queimam as almas impuras”.

Essas expressões ganharam o significado de “inferno” a partir da versão Septuaginta da Bíblia. A tradução foi encomendada por Alexandre, o Grande (336–323 a.C.), quando setenta sábios traduziram a Torá do hebraico para o grego, compondo o acervo da Biblioteca de Alexandria.

Termos como Hades (em grego), Sheol (em hebraico) e Tártaro (em grego, traduzido no latim como o lugar dos anjos caídos) ajudaram a formar o conceito teológico do que, posteriormente, a Bíblia passou a chamar de inferno.

A palavra “inferno” deriva do latim infernum, que significa “o que está abaixo”. Em várias tradições religiosas, é vista como o lugar pós-vida. No Novo Testamento, é descrito como o local de “choro e ranger de dentes” — um destino das almas, não necessariamente apenas dos maus, mas de todos os que aguardavam julgamento.

Nas diferentes religiões, o conceito assume variações:

  • No Judaísmo, Gehena é um lugar de purificação.

  • No Islamismo, é um fogo eterno destinado às almas infiéis.

  • No Budismo, o Naraka é um mundo transitório de tormentos, de onde se pode renascer.

  • No Hinduísmo, é o espaço onde se analisam os crimes da vida, permitindo o retorno após a punição.

  • No Espiritismo, o “inferno” é entendido como um estado de purgação, semelhante ao purgatório, uma fase de limpeza e aprendizado espiritual antes da reencarnação.

Criado para explicar o que aconteceria à alma após a morte, o inferno sempre esteve associado ao destino dos que não tiveram uma conduta digna em vida. O termo divide opiniões, gera polêmicas e desperta debates há milênios — afinal, como em muitas crenças, ninguém jamais provou sua existência. Como diz o ditado: “ninguém voltou de lá para contar.”

Os conceitos ortodoxos criaram inúmeros dogmas e doutrinas, baseados na ausência de provas concretas sobre o chamado “mistério da fé”.

Se você, leitor, acredita — e, conforme sua crença, encontra uma explicação —, não cabe a mim colocar isso em dúvida. Este texto busca apenas esclarecer a origem e o desenvolvimento do termo nas religiões, como ele foi introduzido nas teologias dos movimentos dogmáticos e os significados ocultos por trás das palavras.

Definir se é verdade ou não não é meu papel nem meu desejo.

Minha intenção é apenas informar, sem pretensão de ser dono da verdade.

O resto — é com você.

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